
Dàjiā hǎo!
Antes de começar o Sutra, é necessário explicar o que é um YAKSHA (ou Yakkha, em Páli). No Buddhismo, há diferentes formas de renascimento, não somente como Humanos ou animais, mas também como seres que habitam outras dimensões, paralelas à nossa. Assim, através de sucessivos renascimentos, todos nós já fomos e, a menos que nos iluminemos nesta vida, ainda estaremos sujeitos a ser novamente um desses seres que, só as pessoas com avançado cultivo mental são capazes de ver. Yakshas, também chamados de "semi-deuses", fazem parte desse universo paralelo e, em vários Sutras são mencionados.
Seres gigantescos, de aspecto físico monstruoso, extremamente fortes, os Yakshas têm a característica de estarem sempre procurando briga, confusões e guerras. Este é um detalhe muito importante. Tanto os Yakshas masculinos, quanto os femininos, levam uma existência muito longa, na qual brigam entre si e com outras criaturas. Se não têm um motivo real para brigar, inventam um, pois, só se satisfazem enquanto estão brigando! Foi com um desses seres tão estranhos e encrenqueiros que o Buddha se encontrou em uma caverna e é este encontro que veremos, com meus comentários e explicações entre parênteses, neste Sutra para o Yaksha chamado Álawaka.
O SUTRA PARA ÁLAWAKA
(ÁLAVAKASUTRAM)
Assim me foi passado oralmente.
Certa vez, O Buddha estava passando um tempo na região de Álawi, área onde vivia o yaksha Álawaka. Ao anoitecer, o Buddha entrou numa caverna como local para dormir. Entretanto, lá estava o yaksha Álawaka que aproximou-se do Mestre dizendo: "Saia daqui, monge!" O Buddha respondeu: "Sim, amigo!" e dirigiu-se para a saída da caverna. Foi então que Álawaka, o yaksha, disse: "Volte aqui, monge!" Ao que o Buddha respondeu: "Sim, amigo!" e voltou para dentro da caverna. Novamente, porém, o yaksha disse: "Saia daqui, monge!" e o Buddha: "Sim, amigo!" e, enquanto voltava para a saída da caverna, pela terceira vez ouviu o yaksha dizer: "Volte aqui, monge!" "Sim, amigo!" Foi a resposta do Buddha que, imediatamente voltou para dentro da caverna.
Ainda por um quarta vez Álawaka, o yaksha, disse ao Buddha: "Saia daqui, monge!" mas, desta vez a resposta do Mestre foi diferente: "Realmente, não vou sair. O que quer que tenha em mente fazer comigo, faça-o!" O yaksha então disse: "Vou fazer-lhe algumas perguntas, oh monge, e, se não me responder, vou atormentar sua mente, ou arrancar seu coração, ou ainda virar você de cabeça para baixo e jogar bem longe, do outro lado do rio!" O Buddha então disse: "Realmente, amigo, não vejo em lugar algum do mundo, nem em ponto algum do Universo, entre Humanos, Dêvas (seres celestiais), junto com Máras (demônios) e Brahmás (outra categoria de seres celestiais) e Reclusos (yôguis que se isolam do mundo) um ser que possa perturbar minha mente, arrancar meu coração, virar-me de cabeça para baixo ou jogar-me do outro lado do rio. Entretanto, amigo, pergunte-me o que quiser." Então, Álawaka, o yaksha, perguntou ao Buddha (em forma de versos):
"Neste mundo, qual a melhor riqueza para um ser Humano?
O que, quando bem praticado, traz a felicidade?
Qual, de fato, é o melhor dos sabores?
O que, pode-se dizer, é o melhor tipo de vida para o Homem?
O Buddha:
"Neste mundo, a autoconfiança é a melhor riqueza do Homem,
A retidão de comportamento, quando bem praticada, traz a felicidade.
A verdade, de fato, é o melhor dos sabores.
O melhor tipo de vida, para o Homem, é viver com Sabedoria."
Álawaka, o yaksha, perguntou:
"Como se atravessa a correnteza? (os obstáculos que impedem a Iluminação)
Como se cruza o oceano? (dos contínuos renascimentos)
Como se sobrepuja o sofrimento?
Como alguém se purifica?"
O Buddha:
"Com autoconfiança se atravessa a correnteza.
Com diligência cruza-se o oceano,
Com esforço sobrepujamos o sofrimento,
Através da Sabedoria se purifica o Homem."
O Yaksha:
"Como obtém-se a Sabedoria?
Como enriquecer?
Como se obtém a fama?
Como fazer amigos?
Deste mundo, ao partir para o próximo,
Como não se lamentar?"
O Mestre:
Tendo confiança nos Dignos de Crédito (os Sábios Iluminados)
Nos Ensinamentos que conduzem ao Nirvána,
E desejando ouvir o Dharma (os Ensinamentos do Buddha),
Obtém-se a Sabedoria,
Com diligência e Atenção Plena,
Praticando ações corretas, com responsabilidade,
Sendo enérgico, obtém-se a riqueza,
A fama é alcançada através da verdade.
Aquele que doa, faz amigos.
Se alguém tem essas quatro qualidades,
do autoconfiante, verdade, autocontrole, coragem e generosidade,
Tal pessoa, de fato, não se lamenta ao partir desta vida."
Então, pergunte aos outros também,
Aos muitos Reclusos e Bráhmañas,
Se nada mais é visto além da verdade, autocontrole, generosidade
E tolerância."
E Álawaka:
"Por que devo eu perguntar agora,
Aos muitos Reclusos e Bráhmañas?
Hoje eu sei
Qual o benefício do mundo seguinte.
De fato, para meu benefício,
O Buddha veio pernoitar em Álavi,
E hoje eu sei
Que aquilo que se doa traz muitos frutos.
E vou perambular, de aldeia em aldeia,
De cidade em cidade,
Homenageando o Totalmente Iluminado,
E as boas qualidades do Dharma."
Tendo dito isto, Álawaka, o yaksha, acrescentou:
"É extremamente maravilhoso, Oh Respeitável Gáutama, é extremamente maravilhoso! Assim como se o respeitável Gáutama tivesse desembocado um copo ou algo que estivesse fechado fosse aberto, ou como se tivesse sido indicada a estrada a alguém que estava perdido ou como se alguém segurasse uma lamparina, iluminando a escuridão, permitindo aos que têm olhos ver todas as formas. Da mesma forma, agiu o Dharma, explicado pelo Respeitável Gáutama. E, deste modo, eu tomo como refúgio o Respeitável Gáutama, seu Dharma e sua Comunidade de Monges (Sangha). Possa o Respeitável Gáutama me aceitar como seu discípulo leigo, a partir de hoje até quando durar minha vida.
Fiquem todos em Paz e protegidos!
悟海法師